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23 outubro, 2004

Sobre a Madeira...



Localização Geográfica: Macaronésia

O arquipélago da Madeira está situado na zona subtropical este do Atlântico, a 630km da costa marroquina e a 900km de Lisboa. Este arquipélago é composto por 2 ilhas principais – Madeira e Porto Santo, as únicas habitáveis – e por 9 ilhéus, para além de vários imponentes rochedos ao longo da costa.
O arquipélago da Madeira, juntamente com os arquipélagos dos Açores, das Canárias e de Cabo Verde, formam a denominada região da Macaronésia (do grego makaros = feliz, alegre; nesos =ilha). Esta noção tem sido utilizada desde o início do século XIX devendo-se ao vocabulário científico da botânica, pelas suas semelhanças botânicas existentes nestes arquipélagos. Por vezes são incluídas na Macaronésia a linha costeira do noroeste africano, o Sul de Portugal e de Espanha assim como a zona do Gibraltar. Porém, no contexto deste livro, Macaronésia refere-se apenas aos arquipélagos referidos.
Devido a vários factores comuns (especialmente no que diz respeito à botânica) a Madeira e as Canárias são, muitas vezes, designadas como Macaronésia Central. As ilhas de Cabo Verde, sendo mais áridas e logo com maiores semelhanças biológicas com África, são as que diferem mais dos restantes arquipélagos.
Todas as ilhas da Macaronésia são de origem vulcânica que surgiram na época Terciária, as quais nunca tiveram contacto com nenhum dos continentes (esta última afirmação não e completamente verdadeira no que diz respeito às ilhas de Lanzarote e Fuerteventura, as ilhas mais orientais das Canárias).
A região da Macaronésia é de grande importância devido à sua fauna e flora que são únicas no mundo, sendo o centro de muitas espécies endémicas assim como o uma área privilegiada de espécies da era Terciária, as quais se tornaram extintas na Europa durante a época Glaciar.


A origem das ilhas

O arquipélago da Madeira é composto pelas seguintes ilhas:

1) A ilha da Madeira, a maior em superfície (736,7km2; juntamente com os ilhéus da costa);

2) A ilha do Porto Santo, a segunda maior em superfície juntamente com os seus ilhéus (ilhéu de Baixo = ilhéu da Cal; ilhéu de Cima = ilhéu do Farol; ilhéu das Cenouras; ilhéu de Ferro e alguns outros pequenos ilhéus) (42,2km2);


3) As 3 ilhas Desertas – Chão, Deserta Grande e Bugio – num total de 13,7 km2;


4) As ilhas Selvagens, que distam 280km Sul da Madeira (mais perto das ilhas Canárias que a própria Madeira!). Este conjunto de ilhas inabitáveis e inacessíveis perfazem no total apenas 3km2 sendo compostas pela Selvagem Grande, Selvagem Pequena, ilhéu de Fora e alguns pequenos ilhéus junto à costa.



A ilha da Madeira tem o comprimento máximo de 58km e a largura máxima de 23km. Com os seus 737km2, a ilha possui uma orografia montanhosa e bastante acidentada. 90% da ilha está situada acima dos 500m e cerca de um terço acima dos 1000m. A cordilheira central estende-se ao longo do comprimento da ilha elevando-se até os 1861m de altitude (Pico Ruivo), dividindo a ilha em duas partes distintas: o norte e o sul. A segunda mais alta montanha é o Pico das Torres (1847m) e a terceira o Pico do Arieiro com os seus 1818m de altitude. Noutras partes da cordilheira as montanhas excedem os 1500m e até os 1600m. Isto irá condicionar em parte o clima da ilha.
A meio da cordilheira, a Encumeada (1008m)é uma zona de referência. A oeste está o planalto do Paul da Serra com cerca de 22km2 e 1400m acima do nível do mar. Este planalto oferece um tipo de paisagem totalmente diferente do resto da ilha: colinas que se inclinam suavemente para sul e abruptamente para norte. Estas colinas são antigos cones vulcânicos que sofreram erosão quase até à sua base. A este, a cordilheira central termina formando uma notável”cauda” – a Ponta de S. Lourenço – que é de longe mais árida que o resto da ilha.
Tanto para norte como para sul as montanhas são acidentadas com numerosos vales profundos, os chamados “barrancos”. Muitos destes “barrancos” estão cercados de ravinas e são quase inacessíveis – somente pelas levadas é que se tornam acessíveis.
Em geral a costa é acidentada, 80% da qual com declives acentuadíssimos! Se o nível do mar descesse 100m, a ilha teria a mesma forma. Então não é de admirar que esteja aqui situado o segundo mais alto cabo do mundo, Cabo Girão com os seus 580m acima do nível do mar.
As profundidades entre as ilhas são igualmente espantosas: 200m entre a Madeira e as Desertas e até os 2500m de profundidade entre a Madeira e o Porto Santo.
517m é quanto mede o mais alto pico do Porto Santo com 12km de comprimento e o máximo de 5km de largura. A paisagem do Porto Santo, caracterizada por suaves colinas, deve-se à sua idade. Aqui a erosão teve milhões de anos para moldar a ilha que hoje é o Porto Santo. Ao contrário da Madeira, aqui encontra-se uma praia de areia com quase 9 km de comprimento.
As Desertas, sem abastecimento de água, são muito acidentadas. A Deserta Grande e o Bugio têm uma cordilheira central, tal como a Madeira, o Chão é aplanado. As Desertas são apenas uma continuação da Ponta de S. Lourenço, a ponta mais este da Madeira.


Geologia

A origem da Madeira e das outras ilhas da Macaronésia estão intimamente relacionadas com a formação, abertura e expansão do oceano Atlântico. Não só as ilhas, mas também os oceanos têm a sua História, condicionadas por lentas, mas contínuas mudanças da superfície terrestre.
Tal como os icebergs no mar, os continentes movimentam-se sob as rochas viscosas do manto inferior, conduzidas por correntes em permanente circulação.
Os próprios continentes são só partes das denominadas placas continentais, os quais estão acima do nível do mar. Existem 7 grandes e 6 pequenas placas continentais. Cada placa consiste em uma crosta oceânica, formando o fundo do mar e a crosta continental, dando origem à zona terrestre. Este movimento das placas continua até hoje e explica a razão porque o mapa do mundo e os seus continentes e mares nem sempre foram como são hoje. Até hoje o continente Europeu afasta-se do Americano 2 – 2,5cm por ano! Quando a Madeira foi pela primeira vez assinalada em 1351 num mapa europeu, o Atlântico era 18m mais estreito do que é hoje!
O início da história natural da Madeira data acima dos 200 milhões de anos, para a época jurássica. Quando o super continente Pangeia começou a separar-se, a Europa e África ficaram num lado enquanto que o continente americano afastava-se para oeste penetrando no oceano, que viria a se chamar Atlântico.
A evolução da Madeira e da sua paisagem foram ou ainda são marcadas por duas enormes forças da Natureza: o vulcanismo e a erosão. O que é construído pelo primeiro é destruído pelo segundo. O vulcanismo marcou a ilha, com algumas interrupções, durante 6 milhões de anos. Contudo, a erosão começou no primeiro dia em que a ilha emergiu do mar.

O basalto é a rocha base da qual a ilha emergiu e cuja idade é apenas de 115 milhões de anos situando-se assim no período Cretáceo que terminou com a extinção dos dinossauros há 65 milhões de anos.

A Madeira é um arquipélago de ilhas vulcânicas, as quais nunca tiveram qualquer contacto com o continente. Emergem da crosta oceânica da placa africana desde os 3400m de profundidade e alcançam – se medirmos desde a crosta oceânica – os 5300m! Como não estão localizadas na fronteira de placas continentais, deverão provavelmente ter tido a sua origem numa zona frágil.
Esta zona frágil é caracterizada por turbulência no manto no interior da crosta. Aqui o magma é pressionado e expelido formando um vulcão submarino. A lava desliza lentamente na fenda da crosta sem qualquer som ou erupções de gás. Quando chega à superfície, nasce uma nova ilha. Depois de uma fase de intensa actividade chega uma fase mais calma na zona frágil. Porém, quando a actividade recomeça mais intensamente na zona frágil, a crosta oceânica (que faz parte da placa continental) foi entretanto empurrada. Então emerge uma nova montanha, uma nova ilha. Tais períodos de actividade intensa numa zona frágil poderão dar origem a uma cadeia de ilhas, como é o caso do Havai.
Juntamente com outras montanhas submarinas, a Madeira também faz parte de uma cadeia. Esta começa cerca de 300km a oeste de Lisboa com a montanha submarina denominada Tore e acaba no sentido NE / SW com o arquipélago da Madeira. Esta cadeia de ilhas constitui uma prova de que a placa africana se movimenta para NE. Durante o período do Mioceno e do Plioceno, África se deslocou em média 1,4cm por ano!

A ilha mais antiga do arquipélago é o Porto Santo. Aqui as primeiras erupções remontam a 18 a 19 milhões de anos durante o Mioceno, um dos períodos da era Terciária. O basalto é a base do Porto Santo. Há 14 a 13,5 milhões de anos esta montanha submarina emergiu no oceano – o Porto Santo nascera. Ao redor da ilha cresceram recifes os quais vieram a se tornar depósitos de cal. Diz-se que esta rocha deverá ter uma idade compreendida entre os 18 e os 13,5 milhões de anos.
Este tipo de recifes são uma indicação que a futura ilha já emergiu da superfície do mar dado que estes recifes somente crescem em águas pouco profundas e solarengas.
A actividade vulcânica do Porto Santo ainda não acabara continuando por mais 5 milhões de anos e terminando há 8 milhões de anos. Para além disto, a ilha foi elevada por forças tectónicas. Foi nesta altura que a ilha expandiu-se em superfície e desde aí apenas as forças da erosão têm tomado conta do resto. Contudo, alguns cientistas crêem que o vulcanismo no Porto Santo já tenha terminado há 14 a 15 milhões de anos.

A ilha da Madeira, a mais nova de todo o arquipélago, também emergiu do fundo do oceano há 18 milhões de anos com o basalto como rocha base. Não antes de 5,2 milhões de anos (na transição do Mioceno para o Plioceno) recifes de corais cresceram em redor da jovem ilha. Devido a levantamentos da ilha juntamente com a actividade vulcânica durante a época glaciar ou até mais tarde, estes recifes podem ser encontrados a 475m acima do nível do mar perto de S. Vicente.

A evolução da Madeira pode ser dividida em 5 fases vulcânicas:

I. Formação da base – durante esta fase foram formados essencialmente grandes blocos, bombas vulcânicas, lapilli e cinzas, testemunhando assim as mais violentas erupções. Nas rochas piroplásticas correm veias basáticas, os denominados diques basálticos. Ocasionalmente também ocorreram erupções basálticas de tipo efusivo. Estas formações podem ser ainda hoje observadas no interior da ilha e na Ponta de S. Lourenço. A primeira fase terminou há 3 milhões de anos, durante o Plioceno.

II. Formação da periferia – a segunda fase começou há cerca de 3 milhões de anos e terminou há 740.000 anos, durante a época glaciar. Nesta época glaciar grande parte do sul, do oeste e do sudeste foram formadas, sendo alternada pela lava e sedimentos piroplásticos. Aqui, também, os diques são muito comuns. Os pequenos planaltos denominados “achadas” também foram formados nesta fase. Estes oferecem boas condições para a colonização e agricultura, por exemplo, Achadas da Cruz, Santana e Prazeres. Foi também quando, há 3,5 milhões de anos, numerosas espécies de plantas, as quais ainda hoje subsistem, se introduziram na ilha.

III. Formações das zonas mais altas – as acentuadas falésias da costa sul (de 400 a 500m) e da costa norte (de 800 a 900m) como também em redor do Paúl da Serra foram formadas apenas há 650.000 anos. Aqui também as rochas piroplásticas alternam com o basalto, porém as erupções foram mais efusivas do que explosivas.

IV. Formações dos basaltos do Paúl da Serra – as camadas basálticas do Paúl da Serra foram formadas devido a uma fissura na Bica da Cana há 550.000 anos. Planaltos semelhantes, mas mais pequenos são o da Achada do Teixeira e outros no sul e no sudeste do Pico Arieiro (por exemplo o Chão dos Balcões).

V. Erupções mais recentes – a última fase iniciou-se há 500.000 anos e apenas terminou há 6.450 anos atrás, como comprovam os mais recentes resultados, e não há 420.000 de anos como é afirmado em muitas publicações. De certeza que os recentes fluidos de lava que se pode observar no Porto Moniz, Seixal e S. Vicente têm menos de 12.000 anos. As grutas de S. Vicente datam também desta época. Algumas rochas da Bica da Cana (Paul da Serra) podem ser datadas de 6.450 anos atrás, aplicando o método carbono – 14 no material.


Laurissilva, o tesouro da Madeira

De entre todos os diferentes habitats na Madeira a laurissilva é de especial importância, dado que esta floresta cobria grande parte da ilha no passado. Isto já se reflectira nos mapas marítimos florentinos datados de 1351, nos quais a Madeira era apelidada “isola de Lolegname”, ou seja, ilha da Madeira, aludindo à sua riqueza florestal.

A floresta dos loureiros (Laurissilva) são florestas húmidas, fortemente influenciadas pelas neblinas, que se desenvolvem nas zonas sombrias, o que quer dizer entre os 300m e os 1300m de altitude na vertente norte e entre os 700m e os 1200m da vertente sul. Apenas com uma excepção – o seixo (salix canariensis) – todas as árvores são de folha persistente. O solo é profundo e rico crescendo aqui vários tipos de fetos. Cerca de 20 diferentes espécies de árvores crescem na laurissilva, mas apenas 4 delas pertencem à família das lauráceas. Eis a razão porque esta floresta é denominada a floresta dos loureiros (=laurissilva). Mas esta floresta não é uma camada uniforme de plantas, é sim um mosaico constituído por zonas húmidas e secas. Os vales são normalmente mais pantanosos, as escarpas rochosas expostas ao sol e vento são mais secas e as espécies que procuram o seu habitat nas paredes das rochas das zonas costeiras (por exemplo o ensaião) podem mesmo avançar para o interior da floresta. Hoje em dia, a maior área de floresta está situada na vertente norte. Mas no passado a laurissilva crescia também na vertente sul. Além de enormes tis (Ocotea foetens) e loureiros (Laurus azorica) também podemos aqui encontrar erva redonda (Sibthorpia peregrina).
A laurissilva representa uma transição entre florestas tropicais, mediterrânicas e das zonas temperadas. Nenhum destas mostra com clareza a distinção de 3 ou 4 camadas de terra como nas florestas tropicais, nem a altura das enormes árvores a partir do solo. A altura das árvores é normalmente muito inferior que nas florestas tropicais. Visto de baixo o húmus é muito mais variado do que nas florestas europeias mas não tão variado como nas florestas tropicais. Contudo, existem fortes ligações com os trópicos, pois muitos géneros têm distribuição nas áreas tropicais, como Ocotea, Persea, Apollonias, Myrica, Picconia, Heberdenia, Maytenus, Sideroxylon, Clethra.

in "Madeira's natural history in a nutshell"

18 outubro, 2004

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